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Cidades-esponja e as mudanças climáticas
Levantamento da Casa Civil e do Ministério das Cidades, divulgado no início deste ano, apontou que mais de 1.900 municípios brasileiros estão em zonas de risco quanto a eventos extremos do clima. Além disso, quase 9 milhões de pessoas vivem em áreas expostas a desastres ambientais no país. Ao todo, 15 das 27 capitais do Brasil não têm um plano de enfrentamento da questão. Por Baggio Schiavon | Dia 14/06/2024

Diante deste cenário, diversos setores da sociedade vêm debatendo sobre as melhores soluções urbanísticas para prevenir e combater os danos causados pelas mudanças climáticas. Dentre as possibilidades, as chamadas cidades-esponja têm se destacado como uma opção viável, já implementadas com sucesso em diversas localidades do mundo, como parte de suas políticas de desenvolvimento urbano sustentável.
“Uma cidade-esponja trabalha com todo o ciclo hidrográfico, ou seja, com a precipitação, a captação, a gestão da água na superfície do solo, a absorção, a infiltração e a recarga do lençol freático, usando medidas que podem atenuar, absorver e dar espaço para essa água de chuva”, explica a arquiteta e urbanista Taneha Bacchin, professora em projeto urbano da Universidade Técnica de Delft, na Holanda.
O conceito, surgido no Japão, busca ampliar a permeabilidade das áreas urbanas, aumentando a absorção das águas e diminuindo a incidência de alagamentos. A ideia é criar áreas projetadas para absorver, reter e reutilizar a água da chuva de maneira eficiente, como parques alagáveis e praças-piscina. Essa abordagem é especialmente relevante em contextos de mudanças climáticas e urbanização rápida, que muitas vezes resultam em inundações e escassez de água.
“Essa água não é desperdiçada em outros locais, ela permanece naquele local para um uso futuro. No conceito da cidade-esponja não se trabalha só com a drenagem da precipitação, mas também com a retenção dessa água, para que em um momento, por exemplo, de secas, ela possa ser reutilizada”, fala a especialista.
Suas principais soluções incluem:
- Infraestrutura verde: Uso de parques, jardins, telhados verdes e paredes verdes para aumentar a permeabilidade do solo e reduzir o escoamento superficial;
- Áreas de retenção e detenção: Criação de bacias de retenção e detenção que armazenam a água da chuva temporariamente, permitindo a sua infiltração no solo ou o seu uso posterior;
- Permeabilidade do solo: Incentivo ao uso de pavimentos permeáveis que permitem a infiltração da água no solo;
- Tecnologia de reutilização da água: Implementação de sistemas para coletar, tratar e reutilizar a água da chuva para fins não potáveis, como irrigação e descarga de sanitários.
Após uma enchente de proporções trágicas em 2012, a China implementou o conceito para combater os alagamentos em mais de uma dezena de cidades, como Taizhou e Jinhua. Propostas semelhantes foram criadas em Berlim (Alemanha), Copenhague (Dinamarca) e Nova York (EUA). No Brasil, o maior exemplo é a cidade de Curitiba, onde parques como Tingui e Barigui servem como áreas de alagamento em épocas chuvosas.
“Quando a precipitação chega em uma área verde, a tendência é de que a chuva seja absorvida pela terra. As plantas retardam o movimento da água e garantem que não haja erosão ou desabamentos. No concreto, a história é outra. O solo é impermeável. Toda água corre para as áreas mais baixas, onde o alagamento já é dado como certo. Apesar dos riscos, a maioria das cidades seguiu o mesmo roteiro. O cinza toma o lugar das árvores e arbustos. O resultado, todos já conhecem”, enfatiza Taneha.
*Créditos imagem: Marcelo Araújo.
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