Arquitetura e Sociedade: Efeito Curb Cut

O rebaixamento do meio-fio é um dos exemplos mais ilustrativos do design universal e foi uma conquista dos estudantes de Berkeley, na Califórnia, no início da década de 70. O protesto dos estudantes americanos deu origem a um fenômeno chamado Efeito Curb Cut.

Arquitetura e Sociedade: Efeito Curb Cut

Há alguns anos, a inclusão não era uma questão comum no check-list de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Foi apenas a partir da década de 1970 que este cenário começou a mudar, quando estudantes com deficiência da Universidade da Califórnia, na cidade americana de Berkeley, iniciaram um protesto por melhorias na acessibilidade. Eles derramaram cimento para formar a primeira rampa improvisada no meio-fio (curb cut), inspirados pelo ativista Ed Roberts. Paralisado do pescoço para baixo devido a uma doença na juventude, ele brigou para se manter na universidade, onde conquistou um quarto especial no hospital universitário para acomodar o respirador em grande escala, chamado de pulmão de aço, que precisava para sobreviver.

Sob pressão dos ativistas, Berkeley instalou o seu primeiro rebaixamento oficial de calçada em 1972, em uma avenida movimentada da cidade. O efeito se espalhou por outras regiões americanas, que começaram a ganhar rebaixamentos nos meios-fios. Seguindo o exemplo dos estudantes californianos, ativistas com deficiência continuaram a pressionar as autoridades para criar salas de aula, banheiros e ônibus acessíveis ao longo dos anos seguintes. Uma legislação nacional sobre o tema, no entanto, só surgiu em 1990, quando o então presidente George H.W. Bush assinou uma lei exigindo mais inclusão nos ambientes construídos.

O protesto dos estudantes americanos deu origem a um fenômeno chamado Efeito Curb Cut, no qual melhorias feitas para uma minoria acabam beneficiando uma população muito maior. A rampa no meio-fio, por exemplo, uma adaptação aparentemente pequena na calçada, permitiu que cadeirantes, idosos e pessoas com deficiências motoras conseguissem se locomover mais facilmente pelas cidades, mas também se provou útil para pais com carrinhos de bebê, ciclistas, pessoas com bagagens e trabalhadores de entrega, entre outros.

O rebaixamento do meio-fio também é um dos exemplos mais ilustrativos do design universal. Essa filosofia de projeto, formulada pelo arquiteto americano Ron Mace na década de 1980, sugere que os espaços sejam acessíveis, com desenhos que levem em consideração os mais diversos perfis de usuários. Nas cidades, ele pode se manifestar em práticas de urbanismo, como rampas de acesso, banheiros adaptados, sinalização tátil, transporte público acessível, vagas especiais e calçadas antiderrapantes.

Outras práticas mais modernas incluem o uso de tecnologias para tornar os espaços mais inclusivos. Em Fortaleza, no Ceará, um sistema de inteligência artificial (IA) ilumina uma faixa de pedestres instalada em uma rotatória da cidade no momento da travessia das pessoas, o que torna o trajeto mais seguro. Já na cidade de Toronto, no Canadá, a travessia das ruas é feita com o mesmo material e altura das calçadas, dando a ideia de continuidade e indicando que aquele espaço é destinado também às pessoas.

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